Salto do bonde na esquina das ruas Pedro Américo e Catete.
Passo pela delegacia da esquina, ando mais dois minutos e chego na entrada do colégio Zaccaria. O reitor está na porta explicando para algumas mães que hoje não haverá aulas, e rapidinho a gente vê um movimento grande mais adiante, no Palácio do Catete. E ficamos sabendo que o Getúlio Vargas morreu.
Oba, tô lá sabendo de política, quero voltar para casa e aproveitar a folga.
Pego o bonde 3, o Águas Férreas, de volta para casa. Próxima parada, depois do ponto em frente à rua Cardoso Júnior, é em frente à casa da família Sauer, onde anos depois ouviríamos nas festinhas de música um magrinho de mãos enormes tocando saxofone: Vitor Assis Brasil.
Na esquina, na casa da família Pullen Parente, que hoje é o Mamma Rosa, o caçula olhava o bonde passar. Era o Pedro. Hoje é presidente da Petrobras.
Próxima parada: em frente ao colégio Sion e da casa onde morou Machado de Assis.
O bonde para a seguir em frente ao casarão da família Bezerra de Mello, que mais parece a Casa Branca. Do outro lado da rua a casa do Rubens Berardo, que foi dono da TV Continental.
E segue o bonde, passando pela Bica da Rainha e pela casa do embaixador Osvaldo Aranha, que presidiu a primeira sessão da ONU em 1947.
O bonde para em frente à igreja de São Judas Tadeu, então uma capelinha que o padre Góes transformou num templo imenso ao longo dos anos. Salto, atravesso e subo a rua Smith de Vasconcelos, onde moro.
Passo pela casa do Paulo Boavista, do banco Boavista, pela casa dos Xavier de Brito, onde padre Góes celebrava missas antes de ter sua capelinha e sigo para casa.
Se tivesse continuado no bonde iria até o final do Cosme Velho, passando pela casa do Austregésilo de Athayde, presidente da ABL, e pela casa do escritor e historiador Marcos Carneiro de Mendonça, a Casa dos Abacaxis. Em 1914, com 19 anos, foi o primeiro goleiro da seleção brasileira de futebol, e era pai da Bárbara Heliodora, que morava em frente, no Beco do Boticário. No final, onde o bonde fazia o retorno, existe hoje o viaduto que une as duas galerias do túnel Rebouças. O local era simples, apenas um boteco e dois prédios baixos. Ao fundo, na rua Cosme Velho, que continua à direita, podíamos ver o muro da casa do Roberto Marinho.
Chego em casa, mudo de roupa e quero descer para brincar com os amigos.
Da janela do nosso apartamento vejo a varanda dos fundos de outra casa da nossa rua, ao lado da casa dos Boavista. Uma jovem senhora desce o varal e pendura uma toalha. Era a Cecília Meirelles.